sábado, 5 de junho de 2010

Epifebril.

Não cuidei dos meus pés o quanto deveria. Hoje entraram em greve. Estão de mal comigo, me deixaram na mão. Me deixaram na mão... Me deixaram na mão do palhaço. Palhaço este com olhos feito dois buracos negros, olhos sem fim que acabavam em algum lugar onde eu queria chegar (mesmo sem poder). Meus pés, não controlo mais. Durante anos mandei eles correrem pra chegar no que era bom só pro coração. Pra eles: nada.
- O cheiro aqui está meio ruim - o coração dizia.
E eu, então, mandava correrem em outra direção.
- Direita!
(...)
- Eu disse esquerda, vocês dois é que estão surdos!
- Olha, aqui ainda está verde. Quer esperar? - o coração.
Eu, esperar? Onde já se viu?
- Pés, subam aquela escadaria! Agora pulem!
O coração se adiantava:
- Aqui dá pra ficar por uns dias... Não! Não! Nem pensar! Mas que chatice essa coisa de nunca ver a minha amiga adrenalina. Vamos embora daqui.
Assim foi por algum tempo. Sem carinho nenhum, meus pés cansaram de pegar sempre o caminho mais longo. Desistiram de mim. Não fui democrática. Perdi. Agora resta esperar que outros pés venham pra cá.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Meus heróis morreram de gripe.

Usava sempre o mesmo all star sujo e a mesma mochila com alguma estampa infantil. A expressão no rosto era idêntica à do dia anterior: salada de indiferença com raiva e alegria. Era indecifrável, coisa que alguns já haviam tentado fazer mas a maioria não despertava interesse. O próprio contraste com tronco, pernas e braços. As palavras saiam aos tropeções de sua boca e eram o motivo da risada mal camurflada dos poucos que a rodeavam. Cabelos loiros mal presos num rabo de cavalo característico. Os olhos tinham uma cor nova, nunca antes vista. Era pontual. Gostava de calor. Possuidora de uma inteligência invejável por todos (que não admitiam).

Às sextas ia sempre ao mesmo bar. Era longe, mas gostava de andar. Abria a mochila, pegava um cigarro. Fumava-o, mas sem prazer. O por quê de fumar não sabia ao certo. Sentava sempre no mesmo lugar. No exato centro do bar. Mesa para dois. Antes de sentar tirava sempre a outra cadeira para não ter que olhar nos olhos de quem viesse perguntar: 'você está ocupando esta?'. Não gostava de olhar nos olhos. Decifrariam a cor deles.

Chegava sempre cedo ao bar para não perder sua mesa. Não fazia sinal ao garçon, ele já sabia que ela queria um chopp com muito colarinho. Sentava na área para não fumantes. Lia um livro e bebia durante horas.

Era sempre a última a sair do bar. Pagava a conta, voltava andando, confundindo o meio fio com suas próprias pernas. Abria a mochila e pegava um cigarro. Ia pensando nas idéias mais impressionantes que algum ser errante poderia concluir. Era fantástica. Mas seus feitos eram todos desprezados (ou invisíveis). Chegava, dormia.

Acordava. Ou não. Sabia que os densos demais acabavam afogando-se no próprio ar.

Versus a cabeça.

- Vai!
- Não quero...
- Ande logo!
- Mas...
- Como és covarde!
- Não sou!
- E como!
- Só não quero me desvairar com o escuro que é esse finito.
- Doida já estás, só resta completar o feito.
- Não fale assim!
- Falo assim, sim. Ando recebendo para isso.
- Como és ácido...
- Orgulho tenho!
- Vou voltar.
- Não vai!
- Minhas pernas não controlas.
- Mas controlo a psiquê.
- Oi?
- Esqueça. Pule!
- Não vou!
- Vai sim. Não há mais o que fazer nessa dimensão. Amigos não tens mais, família abandonas-te. És companhia de si mesma. Que graça há nisso?
- Não sei... Vou pular.
- Finalmente!
- Não... Não quero!
- Céus! Será melhor!
- Pois pule então!
- Não posso, não tenho joelhos. Estou preso a você. Agora, quer acabar logo com isso?
- Como és malcriado!
- Culpe a si mesma por isso!
- Cale-se!
- Não! Pule!
- Não! Ai, mas cadê o anjo nessas horas?
- Dei cabo dele faz tempo. Não mandei colocarem nós dois a um pescoço de distância. Ande, pule logo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quick question.

Quando é que vão entender que seres humanos são incomparáveis?

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Me perdoa, coração. A culpa não é minha.

I would erase you if I could.

Ele existiu. Viveu. Gargalhou e me pisoteou. Extraiu a melhor essência de mim, que foi toda pelo ralo. Toda pelo esgoto, com os ratos. Ele morreu pra mim, mas retorna sempre que quer. Eu quero. Retorna trazendo de volta o meu interior, meu subconsciente. Depois me desaba quando quer. Eu não quero. Um ciclo vicioso. Me deixa fora de mim. Fico vagando por algum tempo. Só a casca. Só o corpo. Só a carcaça. Ando sem direção, tropeço nos próprios pés. Fico cega. Fico oca. Esperando que ele chegue e coloque a carne que havia dentro de mim e não tire mais. Quando ele faz da minha carne triste quase feliz. A beleza da minha alma. I'm fine without you.